Thierry Fischer na Osesp

Para uma orquestra, o momento em que um regente titular abre as porta de seu lar musical para sair e deixá-lo para um outro regente, representa uma etapa prevista porém sempre delicada e cheia de expectativas. Na esperança de quem participou do processo de seleção desde a primeira reunião, ainda no início do ano passado (é meu caso), trata-se de uma aposta em um crescimento e fortalecimento de uma identidade musical do grupo assim como da instituição toda.

Nesse dia de hoje, tão importante para a Osesp e para a música no Brasil, desejo em primeiro lugar agradecer a Marin Alsop pelo trabalho desses anos. Seu profundo conhecimento do “Instrumento orquestra” ajudou a orquestra a encontrar-se, depois de um período bastante turbulento. Suas decisões, mesmo quando não coincidentes com a opinião de todos, foram sempre norteadas pelo bem da orquestra e da Fundação, e pela primeira vez eu pude perceber que qualquer um, finalmente, podia falar abertamente, e/ou sugerir mudanças e melhoras. Marin Alsop introduziu na nossa orquestra um dia a dia de respeito, de diálogo, de tolerância e de troca de opiniões que são o espelho “institucional” daquilo que ela é como pessoa. Musicalmente, soube evidenciar virtudes e defeitos e trabalhou incansavelmente para deixar uma Osesp melhor da Osesp que éramos antes de sua chegada. Alguns pontos altos, inesquecíveis para mim, foram a 3ª Sinfonia de Mahler, a recente turnê na China, além de algumas gravações que estão lá para demonstrar os frutos de seu e do nosso trabalho. Entre todas elas, destaco uma 1ª Sinfonia de Prokofiev que na minha opinião pode tranquilamente ser comparada com as “grandes gravações” desta peça ( Só não fiz um programa “Contrastes” sobre isso por achar deselegante usar em meu próprio programa na Rádio Cultura uma gravação em que eu mesmo participo ). Além disso, como não lembrar, ainda tendo os arrepios daquela noite, a “primeira vez” no Proms de Londres? Tudo isso, com uma gratidão pessoal por ter apreciado e confiado tanto em meu trabalho.

Teremos ainda muito pela frente, com Marin, nessa temporada assim como nas próximas, porém chegou a hora de dar as boas vindas a um Maestro que nos conquistou desde seu primeiro concerto. Thierry Fischer. Pela minha experiência direta, um homem simples, concreto, dedicado profundamente aos projetos que ele escolhe ou pelos quais é escolhido.
Trabalhando com ele a “Sinfonia Fantástica” de Berlioz, por exemplo, me impressionou a busca do “som ideal” que vivia em sua imaginação, algo que eu procuro sempre fazer quando estudo uma peça com meu violino ou quando estudo uma partitura. Além de ter essa fervida imaginação sonora, que para mim é ponto de partida de qualquer grande interpretação, ele possui também a grande virtude de não desistir até chegar muito próximo daquele som ideal. Devo admitir que estou ansioso de trabalhar, ensaiar, aprender junto ao Maestro Fischer, e já sei que será um período entusiasmante.

A escolha não foi fácil, pois em São Paulo tivemos muitos músicos maravilhosos ao longo das últimas temporadas, mas conforme o número de candidatos foi diminuindo, percebemos que os desejos dos músicos que participávam do processo iam se encaixando perfeitamente com as preferências dos outros membros do comitê de busca, assim que felizmente conseguimos chegar a uma decisão unanime.

Muitos meses se passaram, desde que começamos nos perguntando “para onde queremos ir? Onde queremos estar daqui a alguns anos?”. Chegamos agora ao momento de oficializar nossa escolha e dar as boas-vindas ao novo membro da nossa grande família musical. Desejando ao Maestro Thierry Fischer anos de sucessos, e esperando que sejam, para ele, anos felizes como estou certo que serão para a nossa querida Osesp.

3 comentários em “Thierry Fischer na Osesp

  1. Para quem como eu, acompanhava de longe essa transição, a escolha foi uma surpresa, mas temos certeza que será uma feliz surpresa.
    Desejo-lhe muito sucesso e que se identifique conosco.

  2. Obrigado Baldini, sou frequentador assíduo da Osesp, Municipal e São Pedro, os três dedicados à música erudita. Além disso participo de um coral erudito e como frequento música de concerto há mais de trinta anos, algum conhecimento do assunto devo ter. Perguntar não ofende: por que não foi selecionado um regente brasileiro entre tantos bons que temos? Existe algum preconceito contra um regente brasileiro nas grandes salas do exterior?

    1. Caro Omar, nenhum preconceito! Apenas a nacionalidade não é algo a ser considerado em nenhuma orquestra importante do mundo. Nenhum comitê de busca de qualquer grande orquestra possui como exigência que o regente seja nacional. Os elementos que são considerados são outros: nível musical (a partir da opinião dos músicos), reconhecimento, contatos e aportes que pode trazer para a orquestra, como selos discográficos, agências etc, capacidade de se relacionar com a sociedade e muitos (muitos mesmo) outros. Nosso comitê, nos moldes dos outros que existem pelo mundo, foi formado por alguns músicos, diretores, musicólogos, membros do conselho e dois consultores internacionais, e a escolha foi UNÂNIME. Repito, não existe preconceito contra regentes brasileiros (Inclusive porque 3 dos 4 músicos do comitê são brasileiros e um (quem escreve) se considera tal), mas a nacionalidade simplesmente não é um elemento que nos interessa. Abraços!

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